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sábado, 16 de março de 2013

BATE-BOLA COM O PESQUISADOR: LAUTHENAY PERDIGÃO

 


01. Qual seu nome completo, seu apelido (se tiver) e onde e quando nasceu?
Lauthenay Perdigão do Carmo. Os amigos me chamam de Lau. Nasci em Maceió, Alagoas, no dia 27 de agosto de 1934.

02. Com que idade você começou a juntar material relacionado ao futebol e a desenvolver pesquisas sobre o tema “futebol”?
Em 1947. Comprava uma revista do Rio de Janeiro, Esporte Ilustrado. As pesquisas nos jornais do Instituto Histórico e Geográfico começaram no início dos anos sessenta quando saí da Rádio Progresso (onde comecei) e me transferi para a Rádio Gazeta de Alagoas para dirigir a equipe de esportes da emissora.

03. O que faz atualmente em sua vida profissional? Sua profissão está relacionada às pesquisas sobre o futebol? Quanto tempo está na atual profissão? O que fazia antes?
Não sou profissional. Fui profissional como bancário durante 34 anos (Banco do Nordeste do Brasil), de onde estou aposentado desde 1993. Mesmo quando passei trinta anos nas emissoras de rádio e mais de quarenta colaborando com os principais jornais da cidade, não era profissional. Continuo colaborando com os jornais. Sempre que precisam escrevo alguma coisa sobre os esportes.


 

Antes, joguei futebol no CSA por três anos (início dos anos 50). Fui bancário e cronista esportivo. Hoje tenho um Museu dos Esportes que fica no andar térreo do Estádio Rei Pelé, em Maceió. É um museu particular, onde todo acervo me pertence. O local foi cedido pelo governo estadual por 20 anos (completará em agosto deste ano) e já estamos providenciando a sua prorrogação.

04. Alguém o incentivou a começar as pesquisas? Lembra quando foi e de que forma? O que o levou a iniciar as pesquisas?
Em 1957 quando comecei a escrever para o Jornal – Diário de Alagoas – senti que a imprensa não falava dos antigos jogadores e dos grandes jogos do passado. Enfim, era tudo sobre o futebol da época. Comecei a procurar e contar a história de antigos craques. No ano seguinte ingressei na Rádio Progresso como foca e três meses depois me entregaram a direção do departamento esportivo da emissora. Comecei a gravar e fazer programas com os ex-craques. No início dos anos 60 fui para a Rádio Gazeta, dirigir o seu departamento de esporte. Preparei um programa que passou mais de trinta anos em algumas emissoras – O Esporte em Grande Estilo – uma hora de programa, com gols antigos, entrevistas, músicas sobre futebol, enfim, tudo relacionado a histórias do futebol do passado. Também fui para o Jornal Gazeta de Alagoas. Iniciei uma coluna que também ficou nos jornais por quase quarenta anos.

05. Qual a maior satisfação que as pesquisas lhe proporcionam ou proporcionaram?
Ter o reconhecimento de todos pelo trabalho que continuo realizando através do Museu dos Esportes. Ter o carinho dos velhos craques do passado e dos torcedores que nos procuram no Museu para saber histórias. De seus pais ou avós.
O próprio Governo do Estado e do Município reconhecem esse trabalho e estão sempre me prestando homenagens. É preciso saber respeitar a todos para ter o respeito de todos.


 
 
06. O que representa as pesquisas para você? É um hobby apenas? Quanto tempo de sua semana você dedica às pesquisas? Você é daqueles que regularmente vão até as bibliotecas? Sua família apoia você?
Já pesquisei durante muitos anos. Eram pesquisas para escrever os quatro livros que foram publicados, escrever para os jornais e guardar em nossos arquivos, agora no Museu dos Esportes. Hoje já não pesquiso mais. Apenas guardo as boas e importantes reportagens que são publicadas nos jornais, gravo reportagens na TV e continuo fazendo os depoimentos com jogadores, árbitros, atletas do esporte amador e até de alguns dirigentes.
Minha família sempre me apoiou. Graças a Deus. Minhas netas e filhas sempre ajudam. Quando viajam trazem coisas relacionadas ao esporte.

07. Quais foram as suas maiores alegrias na “carreira” de pesquisador? E as maiores tristezas ou decepções?
Reparar um erro da Federação e mudar a história 48 anos depois. Pesquisamos e mostramos que o ASA, de Arapiraca, tinha sido campeão alagoano de 1953. Complemento da resposta na pergunta número 10.

08. Qual(is) a(s) pesquisa(s) que você fez e chamaria de inesquecível(is)?
Aquelas que trouxeram para a nova geração a história de dois jogos que ficaram famosos no futebol alagoano. Entrevistamos jogadores e árbitros da época que ainda estavam vivos e contaram a história que somente os antigos sabiam: 1938, CRB 6 x 0 CSA, o Jogo da Sofia. A maior goleada no clássico até hoje. As entrevistas começaram a partir de 1962 quando comecei a fazer o programa – O Esporte em Grande Estilo.
Em 1952, CSA 4 x 0 CRB. Também entrevistei os personagens do jogo. Inclusive o técnico do CSA, Alfredo Ramiro Bastos, afirmou que o CSA não fez mais de seis gols porque não conhecia a história do jogo da Sofia.

09. E qual a sua pior pesquisa, aquela que você não gostaria de lembrar?
Quase sempre acontecem coisas boas comigo. Sempre digo que sou uma pessoa iluminada. Na família e no esporte. Por isso, as coisas ruins nem me lembro.

10. Descreva um fato pitoresco presenciado por você acontecido durante as pesquisas em bibliotecas, centros de documentação ou outros.
Alguns torcedores antigos do ASA, de Arapiraca, me informaram que o ASA tinha sido campeão alagoano em 1953. Na lista dos campeões fornecida pela Federação o campeão era o Ferroviário. Me juntei com um amigo meu que é torcedor fanático do ASA e resolvemos desvendar o mistério. Começamos a pesquisar a partir do ano de 1953. Encontramos a reportagem que contava que o ASA tinha sido campeão do interior e o Ferroviário da Capital. Tinha que haver uma decisão entre os dois para se conhecer o campeão do Estado. Assim dizia o regulamento confirmado pelo cronista esportivo da época José Rodrigues de Gouveia que, na época, era diretor do campeonato do interior. As reportagens mostravam que o Ferroviário não quis disputar a melhor de três. A Federação não aceitava isso porque não havia em seus raros arquivos a informação que o ASA tinha sido campeão. Não desistimos. Pegamos o fotógrafo Walter Luiz e fomos mais uma vez ao Instituto Histórico. Lembrei-me que, na época, a Federação enviava para os jornais um boletim oficial informando os times campeões do ano no vôlei, basquete, futebol de salão e futebol de campo, na época todos amadores. Começamos a procurar bem devagar e achamos a informação num cantinho de uma página da Gazeta de Alagoas. Walter Luiz fez a foto e levamos para a Federação. Era a prova que eles queriam. Na nota a Federação – oficialmente – declarava o ASA campeão alagoano de 1953.

11. O que tira você do sério em relação à conduta de alguns pesquisadores?
Dos pesquisadores, nada. Não gosto quando alguns cronistas escrevem ou comentam coisas do passado por ouvir dizer. Não procuram saber se é verdade ou não. Ficam dando informações erradas e a geração de hoje acredita.
Dois exemplos de falta de conhecimento. Na revista Placar - Relação dos campeões alagoanos de futebol da primeira divisão. A lista era dos vencedores do Torneio Início.
Num almanaque com a biografia do jogador Canhoteiro, do São Paulo, a foto era do jogador Canhoteiro, que jogou no CSA.

12. Qual o local de pesquisa mais organizado que você já visitou?
O Instituto Histórico e Geográfico de Maceió.
 
 
 
 
 
 
13. E qual o arquivo particular mais interessante que você já teve a satisfação de poder visitar ou de saber de sua existência?
A casa do Airton Fontenelle, nosso colega de Fortaleza. Tem um belo arquivo.

14. Em geral, quais são as maiores qualidades e defeitos de um pesquisador?
Tudo depende de cada um. Alguns preferem ficar com seus arquivos somente para ele. A maior qualidade é ter paciência para pesquisar em locais nem sempre agradáveis e, muitas vezes, sem contar com a colaboração daqueles que poderiam ajudar.

15. Que sugestões você daria para todo pesquisador com a finalidade de facilitar as pesquisas?
Colaborar. Ninguém tem tudo ou sabe tudo. Não custa nada ajudar aos colegas que desejam um esclarecimento.

16. Qual seu time do coração? Você faz ou fez pesquisas relacionadas a ele? Mantém contato com outros pesquisadores especializados em seu time do coração? Como é a sua convivência com estes?
Torço pelo CSA e Vasco da Gama. Nas pesquisas sou imparcial. Sou fã de Ademir Menezes e Dida.

17. Quais suas sugestões e expectativas em relação às pesquisas em seu Estado? Acha que é possível reunir os pesquisadores regularmente em encontros de confraternização?
Pesquisar não é fácil. Precisa de tempo, paciência e colaboração nos locais onde se vai pesquisar. Para reunir pesquisadores regularmente é necessário contar com a colaboração do Estado ou Município. Esse é o problema.



 
 
18. Você já publicou algum livro, monografia, CD ou DVD relacionados ao futebol? Tem algum trabalho no “forno”?
Já escrevi quatro livros – A história do futebol alagoano através dos tempos (1970), Arquivos Implacáveis, A história do futebol alagoano (1982), Memória fotográfica do futebol alagoano (1984) e No Mundo da Bola (1987). Em 2011 publiquei uma segunda edição (atualizada) do livro Arquivos Implacáveis, A história do futebol alagoano.

19. Você participa de algum blog ou site especializado em pesquisas sobre o futebol?
Tenho um blog –
museudosesportes.blogspot.com. E uma página no facebook – facebook.com/lauthenay.carmo.

20. Quais são seus projetos de pesquisas para o futuro?
Não é verdadeiramente uma pesquisa. Já tenho todas as histórias. Falta arrumar. Pretendo escrever um novo livro – Contando histórias. Estou com 78 anos. Vamos ver se vai dar tempo.

21. Na sua opinião, qual foi o melhor pesquisador que já tivemos em nossa história?
Cada um na sua. Não existe melhor ou pior. Todos têm seus méritos. Como já disse, é difícil pesquisar. Precisa de tempo e paciência.

22. Um sonho que você ainda não realizou em suas pesquisas.
Enquanto estiver vivo estarei sempre sonhado. Eu nunca estarei realizado. Meu sonho é fazer um Museu dos meus sonhos. Hoje o Museu está melhor que ontem. Espero que amanhã esteja melhor que hoje.

23. Finalizando, deixe o seu recado ou impressões sobre as pesquisas, sobre o blog e também sobre outro tema qualquer.
Recado para os colegas? Continuem pesquisando. Procurem o que está faltando. Não desistam. Haverá alguns “não” e muitos “sim”. Se uma porta estiver fechada, outras estarão abertas. E colaborem com seus colegas.

5 comentários:

  1. Onde anda Gilsom que jogou no asa um baixinho

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  2. Parabéns por seu trabalho e empenho pra manter viva a história do futebol e seus craques ,, o senhor também já faz parte da história , não só de Maceió mas também de Alagoas e do Brasil .

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  3. Parabéns ao trabalho de resgate e manutenção do acervo histórico do futebol alagoano. Segue aqui um abraço de quem busca da mesma forma manter viva a história do futebol paranaense.

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