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sexta-feira, 1 de março de 2013

BATE-BOLA COM O PESQUISADOR: Rodolfo Stella

 
 
01. Qual seu nome completo, seu apelido (se tiver) e onde e quando nasceu?

Meu nome é Rodolfo Pedro Stella Junior, nascido em São Paulo, capital, em 1º de junho de 1957.

02. Com que idade você começou a juntar material relacionado ao futebol e a desenvolver pesquisas sobre o tema “futebol”?

Praticamente com 13 anos de idade. Meu pai tinha o costume de comprar revistas como a “Revista do Esporte” e depois a “Placar”, esta no início dos anos 70. Este costume fez com que iniciasse uma coleção desta revista, que tenho até hoje. O que mais eu gostava era a seção TABELÃO, depois os escudinhos para botões e matérias sobre clubes que não tinham nenhuma divulgação na mídia da época.

03. O que faz atualmente em sua vida profissional? Sua profissão está relacionada às pesquisas sobre o futebol? Quanto tempo está na atual profissão? O que fazia antes?

Trabalho na área financeira há, aproximadamente, 27 anos. Não tem nenhuma relação com futebol. Anteriormente a isto, trabalhava na confecção de vestidos de noivas que meu pai tinha.

04. Alguém o incentivou a começar as pesquisas? Lembra quando foi e de que forma? O que o levou a iniciar as pesquisas?

O que me incentivou a fazer pesquisas foi a necessidade que tinha para “montar” times bases para os meus campeonatos de botão. Depois o contato com diversos pesquisadores abriu as portas para pesquisas mais detalhadas.

05. Qual a maior satisfação que as pesquisas lhe proporcionam ou proporcionaram?

A maior satisfação é a de conquista, sem nunca prejudicar outro pesquisador e estar sempre na busca de novas informações.

06. O que representa as pesquisas para você? É um hobby apenas? Quanto tempo de sua semana você dedica às pesquisas? Você é daqueles que regularmente vão até as bibliotecas? Sua família apoia você?

As pesquisas são feitas por mim com um hobby mesmo. Devo gastar em torno de 18 horas por semana com elas. Vou sim a bibliotecas e acho importante porque os jornais antigos são uma fonte de pesquisa excelente, talvez a melhor que existe. Minha família, às vezes, reclama um pouco, mas no geral todos me apoiam e até algumas ajudas eu tenho deles.

07. Quais foram as suas maiores alegrias na “carreira” de pesquisador? E as maiores tristezas ou decepções?

As maiores alegrias são aquelas em que as pesquisas evoluem, são atingidos os principais objetivos, como a pesquisa sobre as fichas técnicas dos campeonatos cariocas, que conseguimos atingir mais de 80% dos campeonatos. As maiores decepções ocorrem quando percebemos que a pesquisa que queremos fazer tem um material bem escasso e não há possibilidade de prosseguir.

08. Qual(is) a(s) pesquisa(s) que você fez e chamaria de inesquecível(is)?

Tem algumas, mas especial foi a já citada acima, além de uma da extinta Taça Brasil, que consegui em torno de 60% das fichas e depois tive ajuda do amigo e pesquisador emérito o Júlio Diogo, que completou o que faltava.

09. E qual a sua pior pesquisa, aquela que você não gostaria de lembrar?

Não tem uma específica, mas são todas aquelas que achamos que vamos ser bem sucedidos e logo percebemos que o material encontrado não dá nem para compor 80% de um campeonato.
Tentei pesquisar a Segunda Divisão de São Paulo antes da fase de acesso que ocorreu após 1947. Na verdade, o acesso só ocorreu efetivamente em 1948, e tive que desistir de imediato, uma pena.

10. Descreva um fato pitoresco presenciado por você acontecido durante as pesquisas em bibliotecas, centros de documentação ou outros.

Teve uma vez que uma senhora solicitou que eu fotografasse uma “nota de falecimento” de uma pessoa que ela estava pesquisando. Como era no jornal que eu estava utilizando, eu fiz e depois enviei por email.

11. O que tira você do sério em relação à conduta de alguns pesquisadores?

Não chega a tirar do sério, respeito todos os pesquisadores, sei muito bem das dificuldades de encontrar informações em bibliotecas ou em arquivos de jornais. Só espero que as pesquisas sejam divulgadas, pode ser através de livros, na internet, ou seja, divulguem suas pesquisas, pois não podemos deixar preciosidades serem jogadas no lixo ou ficarem trancadas em baús pelo resto da vida.

12. Qual o local de pesquisa mais organizado que você já visitou?

Tenho muita sorte porque os locais de pesquisa que frequento são bem organizados como o Arquivo do Estado, Biblioteca Mário de Andrade e Biblioteca Municipal de Santo André. A Biblioteca da Federação Paulista de Futebol é muito bem organizada. Além disto, possui coleções completas de revistas como Revista do Esporte, Placar, Manchete Esportiva etc.

13. E qual o arquivo particular mais interessante que você já teve a satisfação de poder visitar ou de saber de sua existência?

Nunca visitei nenhum arquivo particular, sei da existência do arquivo que o Celso Unzelte tem em sua casa, quase fui lá alguns anos atrás, depois não deu certo. Seria muito legal visitar seu espaço.

14. Em geral, quais são as maiores qualidades e defeitos de um pesquisador?

Temos excelentes pesquisadores em todo Brasil, pessoal que tem um objetivo e desenvolve excelentes trabalhos. Muitos ainda não foram divulgados. Se isto ocorrer, verão quantos trabalhos excelentes existem. Já tive o prazer de conhecer alguns, parcialmente é claro, e são de primeira qualidade.
O pesquisador em geral gosta de guardar tudo o que pesquisa para si próprio, na verdade a impressão que dá é que todos gostariam de publicar livros e seria ótimo se ocorresse isto, mas as dificuldades para se publicar um livro são muito grandes, deixando muito material bom “perdido” para o público em geral.

15. Que sugestões você daria para todo pesquisador com a finalidade de facilitar as pesquisas?

A organização e planejamento daquilo que for pesquisar é fundamental. No meu caso, que pesquiso atualmente fichas técnicas, as datas e resultados são essenciais para busca. Com estes dados, é possível pesquisar diretamente na data, sem ter que ficar folheando o jornal para buscá-las.

16. Qual seu time do coração? Você faz ou fez pesquisas relacionadas a ele? Mantém contato com outros pesquisadores especializados em seu time do coração? Como é a sua convivência com estes?

Sou são-paulino fanático, aliás, todos em casa o são. Eu e meu filho mais novo, Fábio, também torcemos pelo Juventus, inclusive frequentamos sempre a Rua Javari, como também o Morumbi. Porém não faço pesquisas sobre o São Paulo, acho que já existem ótimos pesquisadores sobre o clube e na verdade, eu como pesquisador não tenho clube, estou sempre atrás de informações mais complexas de um campeonato por exemplo.
Já tive contatos com pesquisadores do São Paulo, cheguei até ajudar um pouco em um dos livros publicados, e o relacionamento sempre foi muito bom.

17. Quais suas sugestões e expectativas em relação às pesquisas em seu Estado? Acha que é possível reunir os pesquisadores regularmente em encontros de confraternização?

São as melhores. Os arquivos voltaram a funcionar normalmente, foram reformados, com instalações modernas e com equipes atenciosas. Tenho contato com algumas bibliotecas e jornais do interior e também os retornos foram mais positivos do que negativos. Muita coisa está mudando e apesar de existirem muitas dificuldades, vejo boas perspectivas a médio e longo prazo. Só acho que os arquivos deveriam abrir aos sábados. Pessoas como eu só tem condições de frequentar bibliotecas aos sábados ou quando está de férias.
Sou bastante caseiro e saio muito pouco de casa. Encontros com outros pesquisadores são raros, mas acho bem interessante e seria bom pelo menos um encontro por ano.

18. Você já publicou algum livro, monografia, CD ou DVD relacionados ao futebol? Tem algum trabalho no “forno”?

Não, confesso que até gostaria, mas nunca levei nada adiante. Seria bom, publicar um livro, fazendo o que gosta, ter reconhecimento, compartilhar sua pesquisa com outras pessoas e pesquisadores e ainda ganhar dinheiro com isto, mas não é meu objetivo.
Atualmente tenho me dedicado a pesquisas sobre a Série B do Campeonato Paulista e do Brasileiro. Estou fazendo porque me dá prazer e dependendo da evolução destes trabalhos, vou ver uma maneira de compartilhar com todos.

19. Você participa de algum blog ou site especializado em pesquisas sobre o futebol?

Participo de dois. Infelizmente tenho participado pouco de ambos, mais em função do tempo que me dedico as pesquisas que estou fazendo, pois os campeonatos são enormes com muitos e muitos jogos em apenas um ano, principalmente no Paulista.
Os blogs são: http://brfut.blogspot.com.br/ - Blog do Marcão e http://cacellain.com.br/blog/ - História do Futebol e convido a todos a visitá-los, tem muita pesquisa boa a ser vista.

20. Quais são seus projetos de pesquisas para o futuro?

Depois destas pesquisas, não sei o que devo encarar, mas com certeza vou buscar mais fichas técnicas por aí. Mas para isto seria importante que jornais como os da Bahia, Alagoas, Santa Catarina, dentre outros, digitalizassem suas edições para termos acesso.

21. Na sua opinião, qual foi o melhor pesquisador que já tivemos em nossa história?

Dizer um nome só seria até injusto, prefiro destacar um trabalho de pesquisa sensacional e que em minha opinião é o melhor livro que eu tive o prazer de adquirir: Almanaque do Futebol Paulista, dos amigos José Farah e Rodolfo Kussarev. É tudo que um botonista (que faz seus próprios times) como eu sonha ter um dia, escudos, uniformes e relação de participações nas diversas divisões ano a ano. Outro trabalho que se identifica muito comigo é o feito pelo Sr. Rubens Ribeiro, no livro Caminho da Bola – volumes 1, 2 e 3. Digo que um livro completa o outro, só falta agora as fichas técnicas da Segunda Divisão, aí completa de vez.
Desculpe se esquecer algum nome, mas devo destacar alguns pesquisadores que considero amigos e excelentes pesquisadores como: José Ricardo Almeida, Marcos e Guilherme Nascimento, Júlio Bovi Diogo, Adalberto Jorge Klüser, Luiz  Carlos Décourt, José Luiz Tavares Maciel, Marcos Luiz Ibrahim Alves, Carlos Celso Cordeiro, Severino Filho (Buim), Nirez Azevedo, Eduardo Cacella, João Batista Lopes, Ivan Gotardo, Jorge Luiz Micheli, Raphael Galamba, Moacir dos Santos, Izan Muller da Silva, Walter Iris, Alexandre Lima, Lauthenay Perdigão, Ubiratan Brito, Sérgio Santos e Celso Unzelte.

22. Um sonho que você ainda não realizou em suas pesquisas.

Um sonho, quase impossível, seria publicar Almanaques, como o Paulista que citei acima, de outros Estados do Brasil. Quem sabe outros pesquisadores tenham o privilégio de publicar maravilhas como esta.

23. Finalizando, deixe o seu recado ou impressões sobre as pesquisas, sobre o blog e também sobre outro tema qualquer.

O blog é uma ótima ideia para divulgar e dar oportunidade de conhecer pessoas que muitos jamais imaginam existir. Esta entrevista deu a oportunidade de mostrar um pouco do que sou e do que penso. Preciso de ajuda, mas gosto de dar algo em troca também. Sou também totalmente favorável de quem vai atrás, frequenta bibliotecas, arquivo de jornais, arquivos públicos, pois não acho justo só pedir arquivos sem nunca dar nada em troca, faço questão de ajudar e até pago por algumas pesquisas.
Acho que existe uma evolução muito grande nas comunicações. Hoje já temos alguns jornais digitalizados como Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal do Brasil. Existem outros na Bahia e Pernambuco que também já estão digitalizados, porém não disponíveis ao público virtual. A Biblioteca Nacional começou a digitalizar muitos jornais e quem sabe um dia tenha todos digitalizados. A Gazeta Esportiva tem um projeto que não sei quando entrará em funcionamento ou se um dia irá conseguir digitalizar todo seu acervo. Seria sensacional! Por enquanto, pesquisar na Gazeta é totalmente inviável para mim, porque o custo é de R$ 120,00 a hora. Não questiono, cada um cobra o que quer, mas parece que não querem que façam pesquisas lá.

E-MAIL PARA CONTATO:
rpstella@ig.com.br

Um comentário:

  1. Parabéns José Ricardo. Inicia muito bem o seu Blog entrevistando o maior pesquisador que eu conheço, Rodolfo Stella, grande amigo e grande carácter. Que você continue com esse Blog para que conheçamos um pouco mais desses abnegados pela memória do nosso futebol. Vida longa ao Blog !

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