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quarta-feira, 24 de julho de 2013

BATE-BOLA COM O PESQUISADOR: Nilo Dias Tavares


Nilo com Fernandão
 
01. Qual seu nome completo, seu apelido (se tiver) e onde e quando nasceu?
Meu nome é Nilo Dias Tavares. Nasci em Dom Pedrito (RS), no dia 3 de abril de 1941.

02. Com que idade você começou a juntar material relacionado ao futebol e a desenvolver pesquisas sobre o tema “futebol”?
Eu sempre estive envolvido com o futebol. Quando criança, saia da escola e passava o dia em um galpão nos fundos da minha casa rabiscando e colando figuras em grandes folhas de papel, que vinham enrolando as edições de “A Marcha”, um jornal político do Rio de Janeiro que meu pai, comerciário por profissão e político por paixão, assinava. Foram meus primeiros passos no jornalismo. Desde aquela época guardava tudo que me interessasse, recortes de jornais e revistas, fotografias. Mas nada guardei daquilo. Tinha até uma coleção da revista “Esporte Ilustrado”. As minhas pesquisas de verdade tiveram início em 1996, quando comecei a buscar subsídios para escrever um livro sobre o futebol na cidade gaúcha de São Gabriel, onde morava. E a partir daí guardei tudo o que encontrava pela frente.

03. O que faz atualmente em sua vida profissional? Sua profissão está relacionada às pesquisas sobre o futebol? Quanto tempo está na atual profissão? O que fazia antes?
Sou jornalista aposentado. A vocação que surgiu na infância fez com que me interessasse pela profissão. Trabalhei em rádios, jornais, televisão e até assessorias de imprensa. Tenho 55 anos de jornalismo.

Nilo nos tempos do rádio
 
04. Alguém o incentivou a começar as pesquisas? Lembra quando foi e de que forma? O que o levou a iniciar as pesquisas?
Foi quando descobri que o futebol de São Gabriel (RS), onde eu morava havia começado em 1909. E resolvi escrever um livro sobre isso. Até porque havia presidido o clube de futebol profissional da cidade por vários anos.

05. Qual a maior satisfação que as pesquisas lhe proporcionam ou proporcionaram?
Pesquisar é uma coisa incrível, a gente parece que viaja pelo tempo. A satisfação de resgatar coisas que estavam praticamente esquecidas e perdidas em velhos jornais, e depois partilhá-las com outras pessoas, é algo que não tem preço, dá uma satisfação interior muito grande. Esse é o prêmio maior que os pesquisadores recebem.

06. O que representa as pesquisas para você? É um hobby apenas? Quanto tempo de sua semana você dedica às pesquisas? Você é daqueles que regularmente vão até as bibliotecas? Sua família apoia você?
Como estou aposentado, dedico a maior parte do meu tempo as pesquisas. Sempre que posso visito bibliotecas, percorro sebos em busca de raridades e muitas vezes descubro coisas incríveis, como uma coleção quase completa da “Revista dos Esportes”, editada em Pelotas (RS), nas décadas de 1940 e 1950. Adquiri vários números da revista, digitalizei e mandei para outros pesquisadores. Trata-se de um documento importante.

07. Quais foram as suas maiores alegrias na “carreira” de pesquisador? E as maiores tristezas ou decepções?
A maior alegria foi poder escrever o livro “100 anos de futebol em São Gabriel (RS), cujo lançamento aconteceu em 1º de outubro de 2011, no Museu que hoje existe na antiga Igreja do Galo, na cidade de São Gabriel. Até hoje foi o evento que levou mais público até o local, quando foram vendidos mais de 200 exemplares da obra. Nunca tive decepções ou tristezas ocasionadas pelas pesquisas.

08. Qual(is) a(s) pesquisa(s) que você fez e chamaria de inesquecível(is)?
Sem dúvida a que redundou no meu livro. E também ter conseguido uma cópia xerocada do livro "Rio Grande do Sul Sportivo", editado em 1919. Só existem seis originais do livro. O que eu consegui foi com a senhora Sandra Frank, filha do goleiro Frank, campeão gaúcho de 1919 pelo G.S. Brasil, de Pelotas. Ela atualmente reside em Fortaleza (CE). Entrei em contato com ela graças a um dos meus blogs que recebeu sua visita. Esse livro eu publiquei por inteiro no meu blog www.reliquiasdofutebol.blogspot.com e está a disposição de quem quiser.

09. E qual a sua pior pesquisa, aquela que você não gostaria de lembrar?
Não tive essa experiência.

10. Descreva um fato pitoresco presenciado por você acontecido durante as pesquisas em bibliotecas, centros de documentação ou outros.
Não recordo de nenhum.

11. O que tira você do sério em relação à conduta de alguns pesquisadores?
Eu encontrei durante minhas pesquisas em jornais antigos, páginas e mais páginas recortadas a Gillette. Isso é um verdadeiro crime contra o patrimônio cultural de uma cidade. Quem faz isso presta um desserviço a sua cidade e ao seu povo. Essas pessoas não são pesquisadores, são vândalos. Outra coisa é o desinteresse da maioria das autoridades em preservar coleções valiosas de jornais e revistas, que estão se desmanchando pela ação do tempo e pedem um trabalho de restauração e até de microfilmagens.

12. Qual o local de pesquisa mais organizado que você já visitou?
Sem dúvida o escritório do advogado Rui Barros, em São Gabriel (RS). Ele mantém coleções completas de vários jornais que circularam na cidade, todos encadernados e guardados em prateleiras. Lembra uma biblioteca. Eu sempre o chamei de guardião da memória da cidade.

Nilo e o historiador Osório Santana Figueiredo
 
13. E qual o arquivo particular mais interessante que você já teve a satisfação de poder visitar ou de saber de sua existência?
O do historiador Osório Santana Figueiredo, também de São Gabriel (RS). Ele guarda coisas incríveis que se transformaram em mais de duas dezenas de livros. Está com quase 90 anos de idade e ainda continua escrevendo. Além de seus arquivos pessoais, tem em seu poder arquivos valiosos de outros pesquisadores já falecidos. Sem falar numa enorme coleção de fotos, que vão desde as revoluções ocorridas no Sul do Brasil, até figuras ilustres e prédios antigos da cidade.

14. Em geral, quais são as maiores qualidades e defeitos de um pesquisador?
As pesquisas devem ser compartilhadas com todos, pesquisadores ou não. Quem pesquisa e guarda o resultado só para si, não merece ser chamado de pesquisador. Eu sei de pessoas que tem em suas casas arquivos de parentes falecidos e não os mostram para ninguém, que dirá torná-los públicos. Por questões óbvias não cito nomes, mas em Rio Grande (RS) e Santana do Livramento (RS) existem casos assim. Eu já fiz de tudo para ter acesso a documentos valiosos resgatados por muitos anos, mas os parentes se negam a mostrá-los.

15. Que sugestões você daria para todo pesquisador com a finalidade de facilitar as pesquisas?
Que troquem “figurinhas” com outros pesquisadores.

16. Qual seu time do coração? Você faz ou fez pesquisas relacionadas a ele? Mantém contato com outros pesquisadores especializados em seu time do coração? Como é a sua convivência com estes?
Sou torcedor do S.C. Internacional, de Porto Alegre. Mantenho contatos frequentes com pessoas que fazem pesquisas históricas sobre o clube. E também com pesquisadores de outras agremiações. Convivência extremamente agradável. Cito o pesquisador Douglas Marcelo Rambor, de Três Coroas (RS), como um dos melhores parceiros que tenho. Ele faz um trabalho notável de resgate histórico de clubes extintos e de antigas competições no futebol gaúcho.

17. Quais suas sugestões e expectativas em relação às pesquisas em seu Estado? Acha que é possível reunir os pesquisadores regularmente em encontros de confraternização?
Já aconteceram vários encontros de pesquisadores gaúchos. Acho que o Rio Grande do Sul é o Estado mais avançado em pesquisas sobre futebol. Existe em cada cidade pelo menos um pesquisador. E muitos livros já foram escritos. Cito a obra de Hermito Lopes Sobrinho (já falecido), “Futebol e reminiscências – Relembrando o futebol do passado”, como um dos mais completos. Também o livro de Elizeu de Mello Alves, “O Futebol em Pelotas – 1901-1941”, é obra de grande valor. Eu tenho mais de 50 livros sobre o futebol gaúcho, além de dezenas de revistas antigas. E também muitos livros sobre futebol de outros Estados

18. Você já publicou algum livro, monografia, CD ou DVD relacionados ao futebol? Tem algum trabalho no “forno”?
Como já citei, publiquei o livro “100 anos de futebol em São Gabriel-RS”. E mantenho dois blogs sobre futebol: www.nilodiasreporter.blogspot.com e www.reliquiasdofutebol.blogspot.com. Estou trabalhando em um novo possível livro, é sobre o futebol de Brasília. Ainda não tem título e nem sei se irei publicá-lo ou criar um novo blog.

19. Você participa de algum blog ou site especializado em pesquisas sobre o futebol?
Sim. Já citei acima.

20. Quais são seus projetos de pesquisas para o futuro?
O futebol de Brasília.

21. Na sua opinião, qual foi o melhor pesquisador que já tivemos em nossa história?
Foram muitos, mas Thomaz Mazzoni creio que além de pioneiro foi o melhor de todos.

22. Um sonho que você ainda não realizou em suas pesquisas.
Não pensei nisso.

23. Finalizando, deixe o seu recado ou impressões sobre as pesquisas, sobre o blog e também sobre outro tema qualquer.
Acho importante que tenhamos esse blog. Ele, além de valorizar o nosso trabalho, também vai propiciar e facilitar novas parcerias.

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